terça-feira, 20 de maio de 2008

Energias Renováveis e Eficiência Energética nos Açores



Foram as energias renováveis que permitiram ao Homem, durante milénios, viver.

Nos Açores, o seu aproveitamento iniciou-se com o povoamento. Numa primeira fase, recorreu-se à utilização da lenha (biomassa) para a cozinha e aquecimento e à energia hídrica e eólica para a farinação dos cereais, tendo sido, posteriormente, utilizados estes e outros recursos endógenos, como a geotermia, para a produção de energia eléctrica.

Hoje, como todos sabemos, toda a nossa vida faz-se recorrendo ao uso dos combustíveis fósseis (carvão, gás natural e petróleo) que garantem, a nível mundial, cerca de 80% do consumo de energia primária.

Embora se saiba que a cultura do petróleo ainda está para durar uns longos anos, prevendo-se que em 2030 se use ainda mais petróleo do que hoje, a crescente procura de energia por parte de toda a população do globo, nomeadamente de países como a China e a Índia, não poderá continuar a ser satisfeita com recurso ao uso dos combustiveis fósseis.

Neste contexto, o aproveitamento de outras formas de energia volta a ganhar importância, como é o caso da energia nuclear convencional que usa a cisão de átomos de urânio e das energias renováveis.

A energia nuclear voltou à ribalta devido à subida do preço do petróleo e ao facto de ser apresentada como não emissora de CO2, esquecendo-se os necessários elevados investimentos, a não existência de soluções credíveis no que diz respeito à gestão dos resíduos e escamoteando-se o risco de proliferação de armas nucleares, através do uso de plutónio dos resíduos. Além disso, acresce o facto de caso, a nível mundial, houvesse um uso intensivo da fissão nuclear convencional, o recurso esgotar-se-ia em poucas dezenas de anos.

O Arquipélago dos Açores, pela sua condição ultra-periférica, isolado dos grandes mercados energéticos e com a sua população dispersa por nove ilhas, encontra-se profundamente desprotegido da flutuação do preço do petróleo e penalizado pelos elevados custos de transporte. Assim, o aproveitamento dos recursos energéticos renováveis endógenos, quer para a produção de electricidade, quer para a produção de outras energias finais (como a água quente solar), pelo seu carácter “amigo do ambiente” e pelo seu contributo para o incremento da autonomia energética da Região, precisa de continuar a ser incentivado.

Os Açores possuem um elevado potencial eólico, cuja exploração e integração nos nossos sistemas eléctricos merece continuar a ser alvo de estudos. Tendo em consideração não só aspectos ligados à tecnologia mas também aspectos de ordem económica, é possível fazer o aproveitamento energético dos resíduos florestais e da biomassa animal, bem como do recurso solar, sobretudo no que diz respeito ao solar térmico activo que não é suficientemente usado.

No que toca à energia das ondas, em todas as ilhas, com excepção de São Miguel, a potência que pode ser aproveitada excede o consumo local, aguardando-se que a tecnologia saia da fase de desenvolvimento e demonstração. Por último, há que continuar a apostar no principal recurso energético endógeno, a geotermia, que, para além da produção de electricidade, poderá, a confirmar-se as potencialidades do hidrogénio nos transportes, ser o mais indicado recurso para a sua produção.
No entanto, antes de pensarmos no aproveitamento das diversas fontes energéticas para garantir a segurança do abastecimento, temos de saber se, para viver com conforto, temos necessidade de consumir tanta energia. Assim, os Açores têm que continuar a reforçar a sua aposta na eficiência energética, combatendo a irracionalidade e o desperdício, já que, de acordo com a ERSE- Entidade Reguladora do Sector Energético, cada kWh poupado é dez vezes mais barato do que um kWh produzido.
Sendo o sector dos edifícios responsável por cerca de 35% do consumo de energia primária nos Açores, importa reduzir o respectivo consumo, minimizando as necessidades energéticas, integrando energias renováveis e maximizando a eficiência de conversão da energia primária, de que é exemplo a utilização de equipamentos energeticamente mais eficientes, por exemplo lâmpadas fluorescentes compactas ou electrodomésticos de classe energética A ou superior. Por seu turno, no sector dos transportes, que é responsável por 44% do consumo de energia primária nos Açores, para além do incentivo ao uso de veículos mais eficientes, importa estudar todas as possibilidades de aplicar energias alternativas.

Teófilo Braga

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