sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Quem foi o Padre Himalaya?



Foto: http://ruasdoporto.blogspot.com/2007/09/rua-padre-himalaya.html


1- O sábio

O padre Manuel António Gomes (1886-1933), mais conhecido por padre Himalaya, devido à sua estatura, foi o cientista português que construiu um aparelho chamado pirelióforo que recebeu o grande prémio da Feira Internacional de Saint. Louis, nos Estados Unidos da América, em 1904.

O pirelióforo, um forno solar com 13 m de altura, com uma superfície reflectora de 80 m2, possuía 6117 espelhos de 12x10 cm cada um, atingia temperaturas na ordem dos 3800 º C e foi criado com o objectivo de ser usado para a produção de água potável em regiões desérticas, para a produção de vapor para a indústria, para a fusão de alguns materiais e para a produção de fertilizantes.

Outra das invenções do padre Himalaya foi um explosivo, chamado “himalaite”, três vezes mais potente que a dinamite, que o sábio português fez questão de ser usado apenas para fins pacíficos.

Mas a vida multifacetada e misteriosa do padre Himalaya, que para além da energia solar interessou-se por outras formas de energia, como a das marés, para a produção de electricidade, foi naturalista, tendo criado medicamentos à base de plantas, foi iridologista, etc., ainda hoje é pouco conhecida.

Sobre a sua vida e obra, conhecemos o livro “A Conspiração Solar do Padre Himalaya”, do professor da Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto, Jacinto Rodrigues, e um filme também da responsabilidade do mesmo professor que considera o Padre Himalaya um pioneiro da Ecologia.

Pena é que tanto o livro como o filme não tenham grande divulgação nas escolas dos Açores, mas os ensinamentos que da sua leitura ou visionação se poderiam tirar parecem não ser prioridade para quem comanda os destinos da Região.

Depois da educação ambiental ter entrado em desuso, da educação para a energia nunca ter sido levada a sério, a nova aposta é no “empreendorismo”, que ainda não percebi bem o que é, nem para que serve, e não me vou dar ao trabalho de me informar, pois tenho receio de que, quando já estiver por dentro do assunto, a moda já tenha passado.

2- O padre Himalaya e os Açores

Não temos a pretensão de referir neste espaço tudo o que foi feito, nos Açores, para divulgar a vida e a obra do Padre Himalaya. Assim, mencionaremos iniciativas em que de um modo ou de outro estive envolvido, bem como um texto de Alice Moderno publicado no princípio do século passado.

Em 1987, Ano Europeu do Ambiente, os Amigos da Terra/Açores e a Escola Secundária Antero de Quental, promoveram uma “Semana das Energias Renováveis” que teve como objectivos, entre outros, sensibilizar a população estudantil para o problema energético mundial e discutir vantagens e desvantagens das diferentes alternativas energéticas. Nesta semana foi editada e divulgada a brochura “Um estranho sábio português”, com um texto sobre o Padre Himalaya, da autoria do professor Jacinto Rodrigues.

No ao lectivo 2003-204, por iniciativa da Sociedade Portuguesa de Energia solar, surge, a nível nacional, o Concurso Solar Padre Himalaya, dirigido aos alunos ds escolas, públicas ou privadas, dos ensinos básico e secundário que pretendia “estimular a construção de protótipos didácticos que utilizem tecnologia de conversão de energia solar”.

Nos Açores, em 2005 e 2006, o concurso foi apoiado e divulgado pela ARENA que organizou, em cada um dos anos referidos, na Ilha de São Miguel, sessões de informação/formação para professores e alunos. Em ambos os anos, estiveram presentes na final realizada, em Lisboa, alunos de escolas de várias ilhas dos Açores que tiveram a oportunidade apresentar carrinhos e fornos solares por eles construídos.
No início do século passado, Alice Moderno citou um texto onde o autor, a propósito do modo como o país tratava a ciência, escreveu o seguinte: “Fuja, padre Himalaya, fuja, que isto apesar de fingir civilizado ainda, está no íntimo, no mesmo estado em que se encontrava no tempo em que foi perseguido o Padre Bartolomeu de Gusmão por ter inventado a passarola”… “Isto aqui não é terra para sábios nem para inventores, nem para estudiosos”…”Aqui a sabedoria só faz carreira na política. Aí sim, aí, quem tiver invenções mesmo que não possua ideias, é gente”.

Teófilo Braga

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Meia centena de açorianos poderá vender energia à EDA já em 2011


Hoje em dia, vive-se uma alteração do paradigma energético, pois cada vez mais vamos caminhar para uma situação de muitos para muitos, sendo que actualmente o paradigma é de um para muitos. A nível internacional, já é consensual que a inversão será esta: muitos a produzir, em pequenas quantidades e de forma descentralizada (microgeração), para muitos. Para além disso implica que todos que adiram a esta produção beneficiem de um investimento que lhes dá um interessante retorno. Essa é a forma da microeconomia se desenvolver. João Albergaria da empresa Go4theGlobe assim defende a venda de energia fotovoltaica produzida na casa de cada açoriano à EDA Electricidade dos Açores. Actualmente são apenas 10 os açorianos que já entraram neste mercado, mas pelo menos outros trinta já se encontram pré-inscritos para também o fazer dentro em breve. Mais de 50 instalações em 2011 é um número que no entender de João Albergaria é perfeitamente realista, tendo em conta que na Madeira, por exemplo, (com população semelhante à nossa) foram feitas 330 instalações em dois anos.


Até Dezembro de 2010, a microgeração esteve em suspenso nos Açores. O que é que se passou na Região nesta matéria?

A possibilidade de venda de energia às companhias eléctricas nacionais iniciou-se em 2008, mas, infelizmente, nos Açores, nunca chegou a arrancar. Quando se preparava para acontecer, no início de 2010, registou-se um excesso de procura em todo o território do continente português, por ser um negócio muito interessante quer para privados quer para as pequenas e médias empresas. Daí que, depois de haver um entendimento da Direcção Geral de Energia e Geologia no sentido de suspender a possibilidade de venda de energia através de novas instalações, foi refeita toda a legislação e enquadramento legal do sector para que a microgeração pudesse arrancar.
Depois de interrompida em Fevereiro de 2010 e tendo como data de rearranque o mês de Junho, o mesmo só acabou por acontecer em Dezembro.
Daí que nos Açores, durante o ano, estivemos a recolher informações junto de potenciais interessados para que estes se pudessem registar em Dezembro e também já este mês, uma vez que em Janeiro o arranque já decorre de forma contínua. Assim, a partir de agora, qualquer pessoa interessada poderá fazer o seu registo, fazer a instalação do sistema e começar a vender energia à EDA, no caso dos Açores.

E a procura tem sido muita?

Os açorianos estão bastante despertos, apesar de reconhecer que, durante 2010 a nossa empresa ter tido um trabalho bastante difícil uma vez que trabalhámos sempre com base em potenciais cenários. Havia vários indicadores, números de tarifas bonificadas de venda à EDA ou à EDP, possíveis enquadramentos legais, mas nada que estivesse preto no branco.
No entanto, ainda conseguimos angariar cerca de 30 potenciais produtores de energia à electricidade dos Açores, que ficaram em lista de espera para, este mês, fazer os respectivos registos e avançar para as instalações.

Estes serão os primeiros então a vender energia à EDA?

Não. Antes do processo encerrar em Fevereiro de 2010, houve um curtíssimo espaço temporal em que algumas pessoas conseguiram. Ao todo, segundo sei, existem já dez instalações a vender energia à EDA, das quais seis foram montadas pela GO4theGlobe, das quais três são Instituições Particulares de Solidariedade Social (duas na Terceira e uma em Santa Maria).

E os vossos clientes estão satisfeitos com o investimento feito?

Sim. Estão satisfeitos. Montamos uma instalação eólica e cinco fotovoltáicas. Ao todo na Região existem duas eólicas e as restantes oito são produtoras a partir do sol. E os clientes confirmam-nos que estão a obter resultados bastante interessantes. No que diz respeito às IPSS, a conta da electricidade que antes era um custo, neste momento, face à receita extraordinária, deixou de ser um encargo para as mesmas. Para além do mais, outros clientes que nos pediram referências, nós já indicamos estas instituições como tal.

Mas nós, nos Açores, não somos, propriamente, uma Região de sol aberto dia após dia
Nós, ao contrário do que pensamos e percepcionamos, temos sol e com a eficiência que os equipamentos já têm (uma vez que também já trabalham com radiação difusa), dá-nos muito boas perspectivas. Já no que diz respeito ao vento e face à sua inconstância, é mais difícil de aferir os seus resultados. Depois de montarmos os equipamentos, e apesar de ficarmos sempre como apoio aos nossos clientes, estes assinam um contrato de 15 anos com a EDA, com quem passam a fazer negócios.

Quais os passos a serem dados a partir daqui?



A partir de agora, as pessoas interessadas contactam uma empresa que disponibilize estes serviços, fazem o seu pré-registo. Depois de ficarem em lista de espera nacional para passarem a ter um registo, e depois de o terem, podem adjudicar a uma empresa a adjudicação da instalação, sendo que depois cabe à EDA a instalação. Depois é só começar a vender, durante 15 anos, a energia.

E as tarifas são, ou não apelativas?

São sim. As tarifas de venda estão tabeladas por lei, ficando assim garantido o retorno do seu investimento. As tarifas são apelativas, especialmente, porque são bonificadas. Nós compramos energia à EDA a cerca de 12 cêntimos o kwatt, sendo que vamos vender neste regime, durante oito anos, a 38 cêntimos e nos sete seguintes por 22 cêntimos. Ou seja, nos primeiros oito anos, vendemos a cerca de quatro vezes mais do que compramos.
É um investimento com um retorno que andará à volta dos sete anos.

Os incentivos são isso mesmo, aqui na Região?

Nós temos esse benefício relativamente ao continente, pois temos o PROENERGIA que dá 25% num investimento até 4 mil euros.
A nível nacional já existem cerca de sete mil registos e por isso, os açorianos que vão entrando ficarão agora em lista de espera pois continua a ser uma diversificação de carteira de investimentos bastante interessante.

O Director Regional da Energia, José Cabral Vieira, considera que a energia solar é uma melhor aposta do que eólica. Partilha desta opinião?
Concordo totalmente. É muito mais fiável, mais fácil de prever pois sabemos quando será produzida logo, para a EDA, também, é mais interessante pois vai de acordo com o diagrama de carga da EDA.
Para além do mais, a nossa empresa faz sempre um estudo de viabilidade económica dos investimentos, com um software específico. Para além disso, a bonificação da tarifa é a cem por cento para a energia produzida por foto voltaico e apenas a oitenta por cento para a produzida em eólica, precisamente pela inconstância que referi anteriormente.
Mas a energia é idêntica.

A partir do momento que a energia é acumulada passa a estar disponível para a EDA
A energia nem sequer chega a ser acumulada, uma vez que é injectada directamente na rede. Na instalação apenas existem os painéis fotovoltaicos e um inversor que regulariza a corrente e que envia para o posto de transformação (PT) que alimenta a nossa casa. Desse PT há uma parte de energia que é também consumida por nós e outra pelos nossos vizinhos.

E este é que é o segredo, chamemos-lhe assim, do paradigma energético?

Sim. Hoje em dia vive-se uma alteração do paradigma energético, pois cada vez mais vamos caminhar para uma situação de muitos para muitos, sendo que actualmente o paradigma é de um para muitos. A nível internacional, já é consensual que a inversão será esta: muitos a produzir, em pequenas quantidades e de forma descentralizada (microgeração), para muitos. Isto traz acréscimos de eficiência enormes na distribuição, porque há muito menos gastos de energia proveniente do transporte e da distribuição. Para além disso implica que todos que adiram a esta produção ben

Autor: Ana Coelho

Fonte: Correio dos Açores, 3 de Janeiro de 2010