terça-feira, 5 de setembro de 2017

O hidrogénio: mito ou elixir?


O hidrogénio: mito ou elixir?

Por diversas vezes, várias vozes, não só de ambientalistas ou ecologistas, têm alertado para o esgotamento dos combustíveis fósseis e para a necessidade do homem procurar alternativas para os mesmos, não só por causa da sua crescente escassez mas sobretudo para acabar com os impactos ambientais negativos do seu uso.

Um dos processos há muito tempo conhecido é o do uso do hidrogénio que, ao contrário do que comumente se pensa, não é uma nova forma de energia, mas apenas um intermediário entre as energias primárias, que podem ser fósseis ou renováveis, e a energia final, de tipo elétrico.

O uso do hidrogénio nos automóveis ou outros meios de transporte não é de agora. Com efeito, o jornal Correio dos Açores, no dia 7 de fevereiro de 1958, publicou um artigo intitulado “Um italiano afirma que a água substituirá a gasolina”, onde é referido que “o velho sonho de utilização da água como combustível dos motores dos automóveis parece, finalmente, estar a ponto de concretizar-se”.

Ainda segundo o mesmo artigo, o inventor italiano Pietro Fasoli “explicou que o motor se baseia num sistema que, por eletrólise, liberta o hidrogénio; o carburante necessário ao motor que idealizou”.

Muito antes da data mencionada o hidrogénio já era usado. Com efeito, em 1794, o primeiro gerador de hidrogénio terá sido construído em França e, em 1920, as primeiras células produtoras de hidrogénio foram comercializadas nos Estados Unidos.

O primeiro grande defensor do hidrogénio como alternativa às outras “formas de energia terá sido o cientista John Haldane que também teve o cuidado de apontar o principal entrave ao seu uso futuro. Assim, segundo ele, o grande obstáculo era o custo inicial elevado e as grandes vantagens seriam que com o tempo a energia seria tão barata, o mercado descentralizado e não haver produção de “cinza nem fumaça”.

Nos Açores, no início do presente século também se pensou na economia do hidrogénio, tendo estudos conducentes à sua produção sido iniciados, em 2001, pelo Laboratório de Ambiente Marinho e Tecnologia (LAMTec), localizado na Praia da Vitória (Ilha Terceira).

De acordo com uma notícia publicada no Correio dos Açores, cuja data precisa desconhecemos, mas do ano de 2008, o investigador da Universidade dos Açores, Mário Alves, previa que os Açores poderiam “estar, dentro de quatro ou cinco anos, a produzir 100 toneladas diárias de hidrogénio para consumo regional e exportação”. O mesmo investigador calculava que em vinte anos os Açores seriam não autossuficientes mas também exportadores de energia e acrescentava que na sua “estimativa, o arquipélago, dentro de 10 a 15 anos, será auto-suficiente ao produzir, para as suas necessidades, 30 por cento de energia geotérmica, 15-20 por cento de eólica, 5 por cento de hídrica e 50 por cento de hidrogénio”.

Depois do investimento de centenas de milhares de euros (?) da Região e de fundos europeus, deixou-se de falar no hidrogénio e não se conhece a razão por que não terá avançado o projeto.

Sobre o hidrogénio há quem tenha uma visão otimista, como Jeremy Rifkin que escreveu que “pode acabar com a dependência do petróleo, reduzir a emissão de dióxido de carbono e o aquecimento global, além de apaziguar guerras políticas e religiosas. O hidrogénio poderá se tornar o primeiro sistema energético democrático da história”.

Dale Allenm Pfeiffer, por seu lado, arrasa a economia do hidrogénio. Segundo ele “no melhor dos casos ela é ingénua, e no pior desonesta. Uma economia do hidrogénio seria na verdade uma coisa lamentável e paupérrima” e acrescenta “ao invés de desenvolver uma economia do hidrogénio, faz mais sentido — e fará sempre mais sentido — comprar um carro mais eficiente, usar transporte público, andar de bicicleta ou ir a pé.”

Que se pronunciem os especialistas e os governantes!

Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 31323, 6 de setembro de 2017, p17)

Saber mais: http://sicnoticias.sapo.pt/mundo/2017-07-02-O-futuro-da-mobilidade-com-automoveis-a-hidrogenio
Imagem: http://mundoeducacao.bol.uol.com.br/quimica/pilha-combustivel.htm