sábado, 24 de junho de 2017

Percurso Pedestre Quatro Fábricas da Luz

Percurso Pedestre Quatro Fábricas da Luz

Esta nova rubrica do Correio dos Açores, que se manterá durante o período em que maioritariamente as pessoas gozam as suas férias, surge na sequência de um desafio lançado pelo jornalista João Paz e tem como objetivo dar a conhecer alguns trilhos pedestres da nossa terra, destacando a sua função didática, a sua ligação à proteção ambiental e o seu potencial turístico. Praticante do pedestrianismo, na ilha de São Miguel, há cerca de 40 anos, foi com a minha participação nas atividades dos Amigos dos Açores- Associação Ecológica, há pouco mais de trinta anos, que passei estudar a atividade e a participar na elaboração de roteiros de percursos pedestres, um dos quais, sobre o trilho que é apresentado hoje, foi editado, no ano 2000, pela associação referida e pela Fundação Eng.º José Cordeiro, no âmbito das Comemorações do 1º Centenário da Luz Elétrica nos Açores. No ano 2000, o roteiro do percurso pedestre previa a visita a 4 centrais hidroelétricas, de Norte para Sul: a Fábrica Nova, que na altura da sua construção, em 1927, era, no dizer do engenheiro Riley da Motta “a mais poderosa dos Açores”, a Fábrica da Cidade, que foi o segundo aproveitamento hidroelétrico da Ribeira da Praia, tendo entrado em funcionamento em 1903, a Fábrica da Vila que entrou em funcionamento em 1899, para servir Vila Franca do Campo, a primeira localidade dos Açores a receber energia elétrica e a Fábrica da Praia que começou a funcionar em 1911 e que em 1990 foi transformada em Museu pela EDA- Eletricidade dos Açores, com o objetivo de homenagear o engenheiro José Cordeiro, o pioneiro da eletrificação dos Açores. No roteiro editado pelos Amigos dos Açores a proposta era a da realização de um trilho com cerca de 6,3 km, circular, com início e termo junto à Fábrica da Praia, no local da Praia, que foi habitado desde os primeiros tempos do povoamento da ilha de São Miguel. Na sua descrição da ilha de São Miguel, Gaspar Frutuoso descreveu a Praia, na segunda metade do século XVI, nos seguintes termos: “...vem entrar no mar a grande ribeira da Praia, que dantes foi muito fresca, com uma fajã que estava ao longo dela, de uma e doutra parte, onde havia muita fruta de figos e uvas, do concelho, para quem quer que as queria; onde havia uma povoação de até sete ou oito casais de nobres e abastados moradores, chamados os Afonsos, da Praia”. Aquele cronista, também, mencionou a existência de “duas casas de moinhos que com ela moem, de duas pedras cada um, que servem de moendas a Vila Franca”. Entre o casario e a Fábrica da Vila, o visitante pode observar a conduta forçada e a câmara de carga e decantação da fábrica da Praia. Para além de terrenos ainda cultivados ainda são visíveis vestígios de antigos pomares, onde se pode observar um conjunto de castanheiros, algumas laranjeiras, uma ou outra anoneira e azáleas. Entre a Fábrica da Vila e a da Cidade, é possível observar várias espécies vegetais, com destaque para as conteiras, os incensos, as criptomérias, as acácias e os vinháticos. O vinhático, que terá sido introduzido no nosso arquipélago por causa da sua excelente madeira, segundo Erik Sjogren, está naturalizado “nos Açores pelo menos desde há três séculos”. Conhecido como mogno da Madeira ou mogno das ilhas, a sua madeira foi muito usada em marcenaria e no fabrico de caixotes e a sua casca serviu para curtir peles. Continuando o percurso, o caminheiro passa por um tanque, construído em 1906, que hoje alimenta a Central da Ribeira da Praia, um aproveitamento hidroelétrico datado de 1991. Se continuar a caminhar, seguindo a conduta forçada que alimenta o tanque, chega-se a um caminho que liga a estrada regional às margens da Lagoa do Fogo. Virando à esquerda, e caminhando para Sul, chega-se ao ponto de partida. Para quem quer fazer um percurso mais pequeno, praticamente a descer, sugere-se que inicie o percurso junto ao Parque Escutista dos Lagos. Se assim o fizer percorrerá o trilho com 2,1 km que passa por três das quatro fábricas da luz mencionadas e que está homologado pela Direção Regional de Turismo. Teófilo Braga (Correio dos Açores, 31260, 23 de junho de 2017, p. 15)

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