Empresa perdeu a certificação
Energie foi afastada de campanha oficial do solar, mas vai receber prémio do Governo
Por Lurdes Ferreira
O Ministério da Economia atribui hoje à Energie o galardão de "PME Excelência 2009", depois de a ter retirado da lista das empresas com acesso à campanha dos painéis solares térmicos, por a sua tecnologia não ser considerada "solar", embora continue a ser publicitada como tal.
Ao que o PÚBLICO apurou, a Energie já não faz parte da lista das empresas que acedem aos incentivos do Governo para a campanha dos painéis solares térmicos, mas continua publicitar que tem "energia solar de última geração, faça sol ou faça chuva", e a querer ser incluída na lista das empresas com equipamentos renováveis para os novos edifícios, através da qual se abrem novas oportunidades de negócio. A Agência para a Energia (Adene), que gere a certificação energética dos edifícios e à qual a Energie recorreu, acaba de dar meio sim à ideia, admitindo que a lei possa ser alterada para a empresa ser abrangida.
A Energie entrou para o grupo dos fabricantes de painéis solares térmicos aceites na campanha do Governo após a certificação emitida em Março passado por uma entidade alemã e considerada de topo na Europa, a Dincertco, de produção de equipamentos solares.
O anúncio da sua entrada na campanha do solar térmico foi feito durante uma visita de José Sócrates e do ex-ministro da Economia, Manuel Pinho, à fábrica da Póvoa de Varzim, mas gerou controvérsia entre os especialistas, que acusam a empresa de publicidade enganosa. Consideram que a Energie fabrica bombas de calor, com recurso indirecto à energia solar e com forte nível de consumo de electricidade - o que não acontece com os painéis solares.
Pouco menos de um mês depois, a Dincertco, da Alemanha, retirou a classificação à empresa, tal como o PÚBLICO noticiou. A entidade certificadora portuguesa, Certif, e o Laboratório Nacional de Energia e Geologia concordaram com a decisão, por entenderem também que o equipamento da Energie não é solar.
O PÚBLICO tentou saber quantos contratos a empresa realizou neste período de campanha e que acções seriam desencadeadas junto dos consumidores que adquiriram estes equipamentos julgando tratar-se de painéis solares, mas o Ministério da Economia escusou-se a prestar essa informação, tal como a própria empresa.
A empresa continua a publicitar o produto como "energia solar de última geração" captada com sol, chuva, de dia ou de noite, um argumento que os opositores rebatem dizendo que a verdadeira energia solar não funciona de noite e tem menor rendimento ou nulo com chuva. Em resposta ao PÚBLICO, a Energie alega que "o que foi cancelado foi um certificado emitido por um organismo certificador que nada tem a ver com a terminologia energia solar termodinâmica" e que esta existe em Diário da República desde 2006. Diz que na Austrália e na Nova Zelândia estes "sistemas solares são reconhecidos" e que em Portugal não o são devido a "elementos instalados em institutos públicos portugueses, com manifestos interesses no sector", que não identifica.
A Secretaria de Estado do Comércio e Defesa do Consumidor, que tutela a Direcção-Geral do Consumidor, respondeu que "vai analisar o caso", garantindo que "não recebeu qualquer queixa sobre o assunto".
Quanto ao prémio que vai receber hoje, a Energie vê-o como "reconhecimento de uma gestão com o perfil de risco adequado à actual situação económica e financeira, assente numa estratégia planeada em tempo útil e implementada com sucesso".
Fonte: Jornal Público
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