terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Preço da electricidade sobe 5,5% nos Açores



Foto Extraída daqui: http://ricardouk.blogspot.com/
Já para Janeiro : Preço da electricidade sobe 5,5% nos Açores

Os açoreanos vão pagar mais 5,5% pela electricidade em 2009. De acordo com um comunicado da ERSE Entidade Reguladora do Sector Eléctrico que ontem foi tornado público, esta á a média de aumentos para os Açores. Trata-se do aumento com maior percentagem a nível nacional, já que o aumento na Madeira vai ficar pelos 4,4%, em média e no Continente queda-se pelos 4,9%.
A ERSE justifica estas diferenças pelo facto de as estruturas de consuma serem distintas, entre o Continente, Madeira e Açores, mesmo dentro da política de convergência de tarifário eléctrico que foi definida e que tem vindo a ser implementada, apesar de o Governo de Lisboa ainda não ter este assunto regularizado para com a Região Autónoma.
Recorde-se que os valores que ontem foram divulgados estão muito para além da inflação esperada, numa altura em que a componente do fornecimento dos combustíveis que ainda a maioria da produção de electricidade nos Açores, está em forte baixa
Entretanto e de acordo com a mesma fonte, com vista à obtenção de um sistema tarifário mais eficiente e minimizador de subsidiações cruzadas entre consumidores, a aprovação das tarifas inclui a adequação dos períodos horários actualmente utilizados para o ciclo diário em Portugal Continental e nas Regiões Autónomas da Madeira e dos Açores.
Os novos períodos horários pretendem ser mais adequados à actual realidade do mercado tendo em conta, nomeadamente, a integração no MIBEL, que permite algum desfasamento horário dos períodos de maior procura face aos que estão em vigor.
Os novos períodos horários são mais vantajosos, nomeadamente para os consumidores domésticos na medida em que o período de vazio nocturno de preços mais baratos é antecipado 1 hora, passando a iniciar-se às 22H00.
São oferecidas aos consumidores tarifas de energia eléctrica com estruturas distintas, como a Tarifa Simples em que valor da energia consumida apresenta um único preço independentemente do período horário de consumo; a tarifa Bi-horária na qual o valor da energia consumida apresenta dois preços distintos consoante o período horário de consumo seja de Vazio (horas de preços de energia reduzidos) ou Fora de Vazio (horas de preços de energia mais elevados) e ainda a tarifa tri-horária.
Segundo a ERSE, sem convergência tarifária em todo o país, o aumento do preço da energia no Continente ficaria por 2,7%, contra os 4,9% que vão acontecer, enquanto que nos Açores seria um aumento de 63,5% e na Madeira, de 52,3% para proporcionar os proveitos actualmente permitidos às respectivas empresas.

Correio dos Açores, 16 Dezembro 2008

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

A promessa adiada do carro a hidrogénio


Há 30 anos atrás, Jack Nicholson aparecia na televisão a guiar um carro a hidrogénio [1]. A empresa que havia desenvolvido o protótipo garantia que o carro de zero emissões seria comercializado em breve, sendo o hidrogénio obtido com o recurso a electricidade proveniente de painéis solares. Três décadas depois das crises petrolíferas, continuamos no mesmo ponto.

Uma tecnologia derrotada à partida

Apesar de todas as promessas, o carro a hidrogénio continua a ser uma miragem. Na Islândia, onde foi anunciado um grande investimento nesta nova tecnologia, ainda hoje apenas uma estação de serviço fornece hidrogénio. Na Califórnia de Schwarzenegger, a promessa de criar 200 estações de serviço com hidrogénio até 2010 não será cumprida, já que até hoje apenas 5 foram criadas. Em toda a Europa, a substituição de autocarros a diesel por autocarros a hidrogénio ainda é incipiente.

Um dos problemas que explica este atraso é o enorme custo desta tecnologia. Para produzir energia a partir de hidrogénio, um célula de combustível é utilizada. Esta célula de combustível converte hidrogénio e oxigénio em vapor de água, libertando electricidade no processo. Mas para que a reacção química seja possível são utilizados metais preciosos como catalisadores, nomeadamente platina.

Mesmo com avanços significativos na utilização de platina para fabrico de células de combustível, o problema de esgotamento de recursos escassos continua a ser premente. Em 2007 produziram-se cerca de 71 milhões de carros. Mesmo reduzindo para um quinto a utilização de platina em cada célula de combustível necessitaríamos de 1420 toneladas de platina por ano para converter toda a produção automóvel para as células de combustível, o que equivale a seis vezes a produção anual [2]. Se tivermos em conta que 100 gramas de platina custam 3000 dólares, não será difícil perceber as limitações desta tecnologia.

Outro grande problema da economia do hidrogénio é o facto de a produção de hidrogénio ser frequentemente pouco ecológica. A maioria do hidrogénio é produzido com recurso a gás natural, utilizando combustíveis fósseis. De acordo com um estudo do MIT, os benefícios climáticos de um carro a hidrogénio relativamente a um carro híbrido são pequenos [3]. A forma mais ecológica de produzir hidrogénio é através da electrólise, processo em que se obtém hidrogénio a partir da água com recurso a electricidade, desde que sejam usadas energias renováveis. Mas este processo de fabrico é muito dispendioso e a eficiência energética é reduzida.

A eficiência está no centro do terceiro grande problema desta tecnologia. Para abastecer os carros com hidrogénio é necessário produzir o hidrogénio, comprimi-lo, transportá-lo e abastecer a célula de combustível. Em todo o processo registam-se perdas e no fim apenas 24% da energia é aproveitada de forma útil [4], enquanto que a eficiência energética do carro eléctrico atinge os 69%. Um estudo realizado para o governo britânico estimava um aumento na produção de electricidade resultante da conversão dos automóveis para o hidrogénio em mais de 35% [5].

A maior dificuldade estará, contudo, na criação de uma rede de distribuição de hidrogénio. Para que seja possível criar uma economia do hidrogénio, teremos de construir uma rede de pipelines e estações de serviço. Para transportar o hidrogénio seria necessário liquefazê-lo, reduzindo a sua eficiência energética. Em todo o processo de armazenamento e de transporte, é necessário um grande cuidado para evitar fugas por motivos ambientais (o hidrogénio actua como um gás de efeito de estufa uma vez libertado na atmosfera) e de segurança (o hidrogénio é altamente inflamável).

A alternativa

A solução para a descarbonização do sistema de transportes não se encontra numa qualquer nova tecnologia. Sem dúvida que é importante reduzir o consumo de combustível e as emissões de novos carros, assim como será desejável expandir a utilização do carro eléctrico. Mas a resolução de um problema (as emissões) resulta frequentemente na criação de novos problemas. O carro a hidrogénio depende da utilização de platina, como mencionado, enquanto que o carro eléctrico exige a utilização de lítio, um mineral raro. No fundo, estamos apenas a trocar uma dependência por outra.

Por muitas voltas que demos ao assunto, criar cidades mais habitáveis e reduzir a poluição gerada pelos automóveis apenas será possível retirando carros das ruas. Esta é uma solução incómoda para a indústria automóvel, pois implica uma redução dos seus lucros, pelo que nos ilude com promessas de novas tecnologias. Mas a transferência do transporte individual para o transporte colectivo e a promoção de meios de deslocação não poluentes é, mais que uma medida cívica, uma urgência.

Ricardo Coelho

08-Dez-2008

Extraído do Ecoblogue