sábado, 27 de setembro de 2008

A Energia Eólica acoplada à Hídrica Reversível chave para total INDEPENDÊNCIA ENERGÉTICA em ilhas pequenas


Texto de Veríssimo Borges

Dada a incontornável importância da produção e uso energético nas Ilhas Açorianas, que começando por melhor gestão dos recursos tem especial impacto na dependência actualmente existente dos combustíveis fósseis surge a proposta e criação de um fórum técnico parlamentar que permita perceber que o principal obstáculo para uns açores quase a 100 % independentes de combustíveis fósseis, é o conservadorismo da EDA contaminada pelos lobbies petrolíferos, pois soluções já testadas por todo o mundo e de fácil recurso, são extremamente facilitadas em ilhas pequenas com fraca população.
Ora, nestas quase “aldeias-ilhas”, as necessidades energéticas são correspondentemente pequenas e resolúveis com a produção de energia hídrica quanto baste para, de forma reactiva ao consumo (produção não contínua), é fácil produzir energia suficiente para as actuais e futuras necessidades.
Tornando-se obsoletas, não defendemos o desmantelamento dos potenciais térmicos já instalados, que entretanto permitem a gradual substituição por energias alternativas, mas lamentamos que a EDA, ao contrário do seu discurso e em sentido oposto às bases de qualquer ERDSA (Estratégia Regional para o Desenvolvimento Sustentável dos Açores), e das políticas energéticas já assumidas pelo nosso País e pela Europa, continue a investir em centrais térmicas, criminoso atentado contra a economia e ambiente regional agudizada pelas alterações climáticas de que somos co-responsáveis.
É sabido que a energia eólica é inconstante, flutuante e por conseguinte de “má qualidade”, mas também não é novidade a sua capacidade de armazenagem de água a altitudes que permitam a sua utilização com qualidade e de acordo com as necessidades, transformando-a e energia hídrica sempre disponível.
Para tal, nas ilhas pequenas não são necessários recursos hídricos adequados, nem é necessário que a água seja doce nem que tenha qualidades especiais.
Todas estas ilhas têm “à mão de semear” em todo o seu perímetro o lençol de água inferior aos 2 níveis que definem o bipolo de qualquer hídrica: trata-se do mar.
Em todas as ilhas existem variadas plataformas onde uma lagoa artificial de água salgada pode ser instalada. Trata-se simplesmente de escolher a melhor localização em termos geológicos, paisagísticos e ambientais, o que pode não ser fácil dada a profusão de alternativas.
Basicamente esta lagoa artificial deverá ser instalada em local de fraco interesse agrícola e ecológico, podendo até ter efeitos ecológicos (aumento da biodiversidade) ou económicos (aquacultura) positivos.
Próximo, embora não necessariamente, haverá um vale escavado por uma linha de água que adaptou o relevo para a fácil instalação da tubagem ascendente (do mar para a lagoa consumindo energia eólica), que provavelmente terá percurso semelhante à tubagem descendente (água de volta ao mar deixando na Hídrica parte do seu potencial energético armazenado).
O Parque Eólico acoplado, deverá ficar próximo mas não necessariamente. Novamente contam os factores de localização ideal (regime de ventos locais) e os estudos de minimização de impactes ecológicos e ambientais e o impacte paisagístico, a ter em conta, é marginal porque a necessidade dos parques eólicos são um imperativo que vai “contaminar” quase toda a paisagem terrestre, gerando pelo hábito e pela necessidade efeitos de percepção paisagística cada vez mais tolerados e aceites pelas populações.
Obviamente que as lagoas artificiais de água salgada serão herméticas, sem fuga de água com contaminação dos solos e aquíferos inferiores, apesar do sal ser dos menores dos poluentes, sendo por acréscimo facilmente lavável e monitorizáveis quaisquer fugas.
E pronto, com uma (que pode ser mais) lagoa artificial de água do mar, suficientemente grande para armazenar água suficiente para satisfazer com folga as necessidades energéticas da população e enfrentar as flutuações do vento, venham os técnicos da especialidade definir as características das centrais hídricas consideradas necessárias para cada ilha.
Depois é acrescentar optimizações, tais como, por exemplo na Graciosa, produzir energia em excesso que permita a dessalinização de parte da água da lagoa para suprir as carências hídricas desta ilha, ou pela mesma via tornar sustentável o Campo de Golfe que o Governo deseja para Santa Maria, mas que é insustentável por insuficiência de recursos hídricos, e façam-se esforços de optimização do padrão diurno do consumo de energia, canalizando energia barata para as horas de vazio com tachas atraentes para a instalação de indústrias nocturnas, como instalações de frio que, sendo sobre estimadas poderão acumular de noite frio suficiente para ultrapassar o dia.
E já agora penetrar nos combustíveis líquidos com a substituição da frota por veículos eléctricos cujas baterias carregam durante o sono.
Nesta vertente temos mais uma facilidade para sermos pioneiros dado que as ainda limitações dos actuais veículos eléctricos se prendem com raio de acção limitado que aguarda avanços tecnológicos na eficácia das baterias. Ora sendo as ilhas pequenas, já estão dentro do raio de acção dos veículos já comercializados.
E, por esta via, conquistada a independência energética das nossas ilhas, podemos fazê-lo mais depressa e melhor do que os continentes, recordistas na penetração de renováveis nos Açores, conquistamos mais um galardão de visibilidade e justo orgulho da imagem verde que desejamos melhorando inclusive a imagem turística.
A suficiência deste modelo de produção de energia, para as actuais necessidades pode sempre ser ampliada e diversificada.
Nas ilhas grandes, a eventual insuficiência deste esquema está felizmente colmatado pela energia geotérmica disponível, o que não impede que, os aproveitamentos tipo pequena ilha, nomeadamente em zonas excêntricas (Nordeste, Mosteiros).
E que não venham os Srs da EDA dizer que não sabem, nem que não sabiam.

Publicado no Correio dos Açores, 27 Setembro 2008

domingo, 14 de setembro de 2008